domingo, 11 de setembro de 2016

Bases do Materialismo Histórico Dialético e sugestão de exercício


Na semana passada o grupo que ocupa o governo brasileiro anunciou que seus planos são permitir a jornada de 12 horas de trabalho sem hora extra e a "flexibilização" dos contratos de trabalho. Empresas de comércio de informação divulgaram que assim se criarão mais empregos. Minha sugestão é que pensem sobre como uma intervenção crítica é possível a partir de alguns fundamentos que estamos estudando. Aqui vai uma resenha do conteúdo que liga a última aula às da semana de 12 de setembro:
Os principais temas para desenho do materialismo histórico e dialético que Marx abordou foram:

1o. A concepção de “autocriação” progressiva do homem. A idéia de movimento dos entes naturais e dos seres do reino animal é transposta para a história. Marx está, como vimos, influenciado pela idéia original de Hegel. Só que seu antecessor não pretendeu aplica-la à história. Como diz o próprio Marx nos Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844  : “ A totalidade daquilo a que damos o nome de história universal não é senão a história da criação do homem pelo trabalho humano...”.   O Materialismo de Marx não vê o homem em sua essência a-histórica, mas pelo sentido e pelos definidores de sua permanente mudança.

2o. O conceito de alienação.  Nas obras mais tardias, Marx prefere não usar este termo para não ser confundido com os filósofos que falaram de uma alienação em relação à tal essência imanente da humanidade.  Queria marcar uma diferença entre o materialismo e a filosofia abstrata.  No próprio manifesto se lê que Marx acusa de “disparates filosóficos”  as afirmações dos tais filósofos que falam a respeito de uma “alienação da essência humana”. O problema não é a essência como conceito, mas ser esta tomada como faculdade exterior à mudança. Ou seja, o que seu velho e rabugento professor chamou nas primeiras aulas de “natureza humana mutável historicamente”.  O que faz do homem o homo sociologicus é seu caráter artificioso, sua capacidade de criar ficções institucionais, convenções abstratas que ordenam a vida coletiva. Religião,  moral, Estado, mercado, sexualidade, subjetividade, indivíduo e família são exemplos. Não quer dizer que não existam formas menos concretas que manifestações do mundo físico, mas que historicamente ocupam seu espaço condicionados por certas circunstâncias materiais. Em outras e resumidas palavras: alienação é um fenômeno histórico e não um fenômeno em relação a algum suposto essencialismo. Tentem pensar assim: “essência”, “natureza” e “imanência” estão contidos em Idealismo.  “Movimento”, “transformação”, “contradição” e “conflito” em Materialismo Histórico.

3o.  A base da teoria do Estado e da sua superação numa sociedade futura. Marx criticou a filosofia do estado de Hegel, mesmo tendo uma idéia vaga da ordem social que viria depois do capitalismo.   No entanto, a tese de que  a abolição do Estado (como instância que detêm o monopólio juridicamente legítimo da força) pode ser realizada através da eliminação da esfera independente do “político” manteve-se como uma das suas idéias motrizes no período que se convencionou chamar de sua “maturidade”. Ou, seja depois que escreve  “O Capital”. Em outras palavras: a esfera política é específica como objeto de estudo mas não é independente das mesmas relações materiais que determinam outras artificialidades e convenções sociais radicadas na vida material.  Para desespero e rancor dos cientistas políticos enciumados.

4o. Os principais rudimentos do materialismo como perspectiva de análise social. Sua proposta não é substituir  a antiga filosofia por uma nova. Ele repudia a filosofia _ de onde se formou_ e adota um ponto de vista social e histórico. Nasce aí o meu prazeroso ganha-pão. Como sustentou desde os tais “Manuscritos econômico-Filosóficos” de 1844, o capitalismo tem raízes numa determinada forma de sociedade, cuja principal característica estrutural é a relação de classe dicotômica entre capital e trabalho assalariado.

5o. Uma concepção básica da teoria da práxis revolucionária. Marx quer substituir a tal “consciência de si mesmo” da errônea noção de homem abstrato. Não há homem ou natureza em geral.  E as mudanças sociais  só podem existir  através da união da teoria e da prática. Da junção entre compreensão teórica do mundo e noção de que todo conhecimento serve á intervenção política.


As noções fundamentais, em torno das quais se encaixa o resto da teoria: Divisão do trabalho; formas históricas de manifestação a propriedade e conflito capital X trabalho. 

Referência: GIDDENS, Anthony, Capitalismo e Moderna Teoria Social

Bonus track outra homenagem à modernidade: Rolling Stones: "Solidariedade pelo diabo" / "Sympathy for the devil" 

"Por gentileza, permita que eu me apresente
Sou um homem de riqueza e requinte
Estou por aí faz um bom tempo
Roubei as almas e a fé de muita gente
(...) Prazer em Conhecer
Espero que adivinhem meu nome
Mas o que pode te confundir 
É a natureza do meu jogo"
"