Comentários e referências para as aulas de 31/8 e 5/9 de 2016 ( + Bonus track do Pearl Jam no fim do texto)
Karl Heinrich Marx
1818-1883
Marx foi um autor que teve pontos em comum e pontos
que o particularizam entre os autores de sua época. Como era típico ao longo do século XIX, acreditava
que a ciência era a mais objetiva forma de conhecer os fenômenos. Daí procurou
aplicar esse princípio à forma como deveriam ser estudados os fenômenos
históricos e sociais. Utilizou sua
formação em filosofia para mostrar que mais que interpretar o mundo e explicar
a sociedade pelas idéias que predominam,
deve-se explicar o mundo pela forma como ele se organiza para produzir riqueza.
Esse era o seu propósito distintivo. Com seu co-autor mais freqüente Friedrich
Engels, Marx buscou criar uma ciência social voltada para a intervenção e
transformação, além da explicação dos fenômenos. A filosofia de sua época, para ele, não
explicava o mundo em crescente e rápida transformação. E eram as mudanças na
economia política que davam base para as novidades e rupturas que começavam a
se esboçar. Embora seja um erro supor
que Marx derivava tudo do mundo econômico, ele toma como referência fundante em
suas explicações o que associa trabalho, classificação econômica dos grupos
sociais e seu resultado histórico na organização política, nas leis e na
ideologia de uma época.
Uma Ciência do mundo material.
Marx percebeu que o comportamento das pessoas
mudara em relação ao passado. Crenças e
formas de associação tinham um parentesco com a forma predominante de
organização da produção no mundo: o Capitalismo industrial.
O capitalismo era a base que distinguia o momento
histórico que Marx estudava: as idéias, leis e a forma como os povos se
governavam eram adequadas ao capitalismo que cria um novo caráter para o
trabalho e distribuição das tarefas entre quem produz, quem detém os meios de
produção, quem governa, quem obedece. O
trabalho assalariado é uma manifestação distinta do capitalismo. Sua marca
registrada. O trabalhador não é servo,
não é propriedade do patrão como o escravo, é na verdade dono apenas de sua
capacidade de trabalho. Essa capacidade de trabalho é vendida ao patrão. O
preço pago é o salário, que por definição é menos valioso que a riqueza
que o trabalhador confere ao seu produto.
Essa é a forma básica de exploração capitalista. Antes de obter lucro
com a venda de um produto o capitalista já ganha pela expropriação do valor do
trabalho assalariado. Os trabalhadores,
chamados de proletários, e os capitalistas ou burgueses são co-dependentes,
embora a exploração dos segundos sobre os primeiros seja flagrante e incorpore
mais que a vida econômica. Para superar
essa desigualdade injusta, Marx chega a conclusão de que só a exploração
mundial e intensa do proletariado poderia dar aos trabalhadores as condições de
consciência crítica e organização capazes de transformar sua condição de
classe, e com isso a forma como as tarefas são dispostas, e todo o modo de
produção do capitalismo. Mas para chegar
a essa conclusão tão sedutora para os descontentes do mundo todo, Marx precisou
seguir as regras da ciência objetiva, aquela em que ele tanto acreditava, antes
de ter pronta sua doutrina política.
Alguns pontos são básicos na sua metodologia:
Materialismo
Dialético:
A expressão materialismo dialético foi primeiramente usada por Engels. No
entanto, a idéia já havia sido esboçada por Marx em A Ideologia Alemã
(publicado somente em 1932) e nas teses sobre Feuerbach, 1845, em Miséria da
Filosofia. 1847 e finalmente apresentada no prefácio da Contribuição para a
Crítica da Economia Política, 1859. Para Marx, a matéria é eterna e infinita.
Isso significa que não foi criada por quem quer que seja. No seu livro A
Sagrada Família, Karl Marx afirma: “entre os problemas inerentes a matéria, o
movimento é a primeira e a melhor, não somente como movimento mecânico e
matemático, mas ainda mais como instinto, espírito vital, tendência, tormento
da matéria. As formas primitivas da matéria são forças naturais vivas,
individualizantes, inerentes, e são elas que produzem as diferenças
especificas. O movimento da matéria é a base de todo o fenômeno da Natureza. Ë
pelo movimento que se compreende a contradição. Quando não há contradição não
há movimento.” O conceito de contradição vem de Hegel. Para quem o significado
abrange todo o movimento e toda manifestação de vida. Constitui, também, aquilo
que condiciona a passagem de um ser a um ser superior. A contradição representa
o negativo, isto é, aquilo que se inclina á superação de um ser. Dessa forma,
da semente nasce um planta, do adolescente surge o adulto e do ovo nasce um
pintinho. Há algo interno a esses seres que os supera, os modifica,
transformando-os em novos seres. Aceitando o princípio de contradição de Hegel,
Marx toma-o em lei fundamental da sua dialética ao aplicá-lo à realidade
social. As classes sociais constituem os pontos opostos da contradição. De um
lado, os proprietários, do outro, os operários. A classe dominada, o
operariado, representa o negativo, pois é ela, segundo Marx. que vai
transformar a sociedade. Assim sendo, a história da humanidade é a historia da
luta de classes. No entanto, para aprofundar o conhecimento acerca do movimento
da matéria é essencial compreender a Dialética da Natureza. Marx explicou o que
é Dialética da Natureza no posfácio da segunda edição de O Capital:
“Meu método dialético, por seu
fundamento, difere do método hegeliano, sendo a ele inteiramente oposto. Para
Hegel, o processo do pensamento — que ele transforma em sujeito autônomo sob o
nome de idéia — é o criador do real, e o real é apenas sua manifestação
externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais que o material transposto
par a cabeça do ser humano e por ela interpretado. A mistificação por que passa
a dialética nas mãos de Hegel não o impediu de ser o primeiro a apresentar suas
formas gerais de movimento, de maneira ampla e consciente. Em geral,, a
dialética está de cabeça para baixo. E necessário pô-la de cabeça para cima, a
fim de descobrir a substância racional dentro do invólucro místico”.
Segundo Marx, Hegel
acredita na idéia ou espírito como realidade, e que a dialética é como a
própria vida. Marx não pensa assim. Para o autor de O Capital, a originalidade
fundamental das coisas é a matéria. Encorajado por Marx, Engels escreveu
Dialética da Natureza. Nesses livro, Engels afirma que o homem está
intrinsecamente ligado à matéria da qual é seu produto superior. Também expõe
seu pensamento acerca da Dialética da Natureza:
“as leis da Dialética são, portanto, extraídas da história da Natureza, bem como da sociedade humana. E que não passam de leis mais gerais de ambas as fases do desenvolvimento histórico, assim como do pensamento. Reduzem-se principalmente a três: a lei da transformação da quantidade em qualidade, e vice-versa; a lei da interpenetração dos contrários; a lei da negação da negação.”
“as leis da Dialética são, portanto, extraídas da história da Natureza, bem como da sociedade humana. E que não passam de leis mais gerais de ambas as fases do desenvolvimento histórico, assim como do pensamento. Reduzem-se principalmente a três: a lei da transformação da quantidade em qualidade, e vice-versa; a lei da interpenetração dos contrários; a lei da negação da negação.”
Materialismo Histórico: Segundo Marx, a
análise objetiva da realidade vai revelar que todos os grandes movimentos
políticos, sociais e intelectuais da História foram condicionados por razão
econômica. O Materialismo Dialético revela que todo o sistema econômico baseada
na relação de produção e troca evolui até atingir um máximo de eficiência, à
qual se segue um período de decadência. Assim que se inicia um período de
crise, o sistema oposto começa a surgir e acaba por absorver o anterior,
preservando no entanto, o que de bom havia no sistema anterior. A evolução não
é sem conflito uma panela, misture o
leite condensado, a margarina e o chocolate em pó Leve ao fogo baixo e
mexa sem parar, até ficar no ponto de brigadeiro mole Retire do fogo e
misture o creme de leite, incorpore bem e distribua nos copinhos Enfeite com granulado
ou com bolinhas de chocolate Na Antigüidade, a luta era entre amos e escravos, patrícios e
plebeus. Na Idade Média, o conflito era entre os mestres das corporações de
ofícios e os aprendizes. Na Idade Moderna, o conflito era entre o capitalista e
o proletário. Para chegar a essas conclusões, Marx utilizou-se de dois
conceitos criados por ele mesmo: o de infra-estrutura e o de superestrutura.
Segundo Marx: “a estrutura econômica da sociedade é a base real sobre a qual se
eleva a superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem as formas
determinadas de consciência social...
O modo de produção da vida material
condiciona o conjunto de todos os processos da vida social, política e
espiritual. “As idéias da classe dominante são também as
idéias predominantes em cada época, ou seja, a classe que é a força material
dominante da sociedade é também a força espiritual dominante. A classe que
dispõe dos meios da produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios da
produção intelectual, se bem que, por essa razão, as idéias daqueles que não
dispõem dos meios de produção intelectual ficam sujeitas à classe dominante. As
idéias predominantes são apenas a expressão ideal das relações materiais
predominantes, são as relações materiais predominantes apresentadas sob a forma
de idéias, portanto a expressão de relações que fazem de uma classe a classe
dominante.”
Ideologia Alemã: Trata-se de uma
obra, que trata do conceito de ideologia. Marx formula a tese de que as idéias
são uma expressão das condições materiais da vida, o que equivale estabelecer
um nexo entre as condições sociais, econômicas e políticas, de uma comunidade
ou indivíduo, e as formas de consciência dos mesmos. Assim, para Marx, o lugar
de nascimento das ideologias é a sociedade. O conhecimento e a consciência não
nascem puros, porque nascem impregnados da realidade, ( leve ao forno duas rodelas de cebola, a berinjela e o alho) que é sempre ambígua e
contraditória, e só se articulam através da linguagem, como quem diz. através
da história, cristalizados através de palavras, das culturas e dos povos.
A
Síntese de Marx: o Homem e a História
O
desenvolvimento histórico, porém, não é reduzido nunca por Marx a termos
causais lineares. A realidade é para ele uma realidade humana, não só por ser
modelada pelo Homem, mas também porque age sobre o próprio Homem. Isso nos
ajuda a compreender a distinção entre o que se costumava chamar de "base
material" (infra-estrutura) e a "superestrutura", "as
forças produtivas" e "as relações de produção", ou ainda, como
Engels teria dito, entre "matéria" e "espírito". As
primeiras, as forças produtivas, podem ser vistas, agora, como uma atividade
humana consciente que visa a preservar as condições de vida humana. As
segundas, as relações produtivas, podem ser compreendidas como a consciência
humana, que oferece razões, racionalizações, legitimações, justificações
para as formas especificas tomadas por aquela atividade.
Isso
mostra, de certa maneira, como a epistemologia de Marx ocupa uma posição
intermediária entre o materialismo clássico e o idealismo clássico. Vejamos,
por exemplo, a opinião de Marx sobre o "indivíduo“ e a
"sociedade": para ele, não são duas entidades mutuamente exclusivas;
cada conceito inclui, em si mesmo, certos momentos do outro. A dicotomia entre
o ser e a consciência pode ser superada por uma visão radical da unidade do
indivíduo e da sociedade. O indivíduo é o ser social. O pensamento
e o ser são realmente distintos, mas também formam uma unidade. Como a
sociedade não existe, segundo Marx, como entidade distinta dos indivíduos, as
mudanças nos indivíduos representam, inevitavelmente, mudanças na sociedade, e
mudanças nas circunstâncias sociais são também mudanças nos indivíduos.
Já
se disse que a grande realização de Marx está na utilização de certos aspectos
da política e da Filosofia (embora rejeitando outros), em grande parte de Hegel
e Feuerbach, e na formulação de uma síntese destinada a criar uma doutrina e um
movimento. Houve duas características importantes do sistema de Hegel que Marx
rejeitou gradualmente: primeiro, ele rejeitou a noção de compreensão total que
leva à conciliação da mente com o mundo tal como é, em lugar de transformar o
pensamento num instrumento para a modificação do mundo. Enquanto os Jovens
Hegelianos ainda acreditavam na eficiência da crítica teórica, o jovem Marx sintetizava
o socialismo owenista e a teoria econômica ricardiana, e combinava a Filosofia
alemã com o seu conhecimento do proletariado francês, para formar uma doutrina
revolucionária.
Segundo,
Marx rejeitou a justificação hegeliana do Estado e a manutenção do status
quo, situação na qual os homens individuais eram subordinados às
suas exigências. As opiniões de Marx também se opõem diretamente às dos
organicistas-positivistas e funcionalistas que, a partir de suposições sobre a
sociedade, tratam-nas como se fossem objetivamente válidas, e chegam a reificar
a sociedade. Apesar dessas rejeições, havia um aspecto da Filosofia de Hegel
com o qual Marx concordava: tinham em comum uma Filosofia da História.
Hegel
o havia convencido de que a totalidade do mundo é um conjunto ordenado, que o
intelecto pode compreender e dominar. Marx colheu em Hegel a noção de que há um
significado objetivo na história e que esta é a autocriação progressiva do
Homem. É um processo cuja força propulsora é o trabalho humano; o Homem produz
tanto a si mesmo como ao seu mundo e o faz através da atividade prática que
modifica sua própria natureza e ao mesmo tempo transforma a natureza externa. A
história é, portanto, o registro dessa transformação. Marx ressaltou que o
homem devia ser visto historicamente; aquilo que ele faz de si mesmo depende da
interação de suas forças com o ambiente e as instituições da sociedade feitas
pelo homem. A crítica de Marx da sociedade é motivada pela incapacidade da
sociedade de compreender o potencial do Homem. A liberdade, para ser autêntica,
tem de ser universal; por isso, o indivíduo só pode ser livre depois que todos
os homens forem livres. Esses pensamentos utópicos têm base na Filosofia da
Razão de Hegel e na concepção da natureza humana de Feuerbach. Marx usa a
dialética hegeliana do sujeito-objeto de modo a eliminar a unilateralidade do
materialismo mecanicista, que postula o Homem como um receptáculo passivo de
uma Natureza imutável. Mas, por outro lado, ele também vê que a autocriação do
Homem envolve as necessidades reais dos seres humanos empíricos que Hegel havia
esquecido. Para Marx, o homem é realmente ele mesmo na medida em que é capaz de
re-conhecer-se no universo, feito pelo homem, que o cerca. A alienação é a
incapacidade de atingir a auto-realização. A superação da alienação é,
portanto, a meta final do processo histórico, o momento em que todas as
potencialidades da natureza do Homem são realizadas. Duas idéias contraditórias
existem lado a lado: a alienação, a noção de que o Homem é impotente para agir,
e o outro lado da moeda, a noção de que o mundo do Homem é apenas a sua praxis,
a sua atividade humana. Vamos acompanhar agora a evolução e o significado
desses termos, desde sua origem hegeliana, para melhor compreender a
significação plena do pensamento social e político de Marx.
Duas
Visões da Alienação: Hegel e Marx
Para
Marx, o trabalho é a atividade humana essencial; somente os homens são capazes
de agir deliberadamente sobre o mundo, mudando-o. Isso contrasta com Adam
Smith, para quem o ócio era o estado ideal do homem, e o trabalho era uma
atividade coerciva. Mas Marx nega isso, e afirma que o trabalho realiza a
espontaneidade humana e tem o mais alto valor potencial. Na sociedade tal como
existe, o trabalho é coercivo não devido à sua natureza, mas devido às
condições históricas sob as quais é realizado. Nas condições da economia
capitalista, a produção é realizada em circunstâncias tão alienadoras que o
trabalho, a atividade criativa do homem, o processo que chamamos de "objetificação",
se torna um processo de desumanização.
Marx
argumenta ser da natureza do Homem produzir objetos nos quais ele se reflete,
cercar-se de um universo feito pelo homem. Mas os objetos, os produtos da
atividade auto-realizadora e criativa do trabalhador, são a este tomados. Ele é
incapaz de ser dono do produto de seu trabalho, e se torna estranho à sua
própria criação, que o enfrenta como algo hostil e alheio. Essa alienação do
homem e seu produto também implica a sua alienação em relação aos outros homens.
A precondição da existência é o trabalho, mas no capitalismo o próprio trabalho
transformou-se numa mercadoria.
O
trabalhador é relacionado com o produto de seu trabalho como um objeto
estranho. O objeto que ele produz não pertence a ele, domina-o, e só serve, a
longo prazo, para aumentar sua pobreza. A alienação surge não só no resultado,
mas também na produção e na própria atividade produtiva. O trabalhador não está
à vontade no seu trabalho, que ele considera apenas com um meio para satisfazer
outras necessidades. E uma atividade dirigida contra ele próprio, independente
dele e que não lhe pertence. Em terceiro lugar, o trabalho alienado consegue
alienar o homem da sua espécie. A vida da espécie, a vida produtiva, a vida
criadora de vida, transforma-se num simples meio de manter a existência
individual do trabalhador, e o homem é alienado de seus semelhantes.
Finalmente, a própria natureza é alienada do homem, que com isso perde seu
próprio corpo inorgânico.
Marx
afirma que o Homem é alienado da Natureza, de si mesmo e da humanidade, e que
esses aspectos estão relacionados entre si. O trabalho se torna não a
satisfação de uma necessidade, mas apenas o meio para a satisfação de
outras necessidades. A vida do trabalhador se torna, para ele, apenas o meio
que lhe permite existir. Em outras palavras, o sujeito humano se torna o objeto
de seus próprios produtos; visto a essa luz, o capital é o ego alienado do
homem.
Como
muitas das idéias de Marx, a noção de alienação vem diretamente de Hegel, mas ainda
uma vez não é apenas uma questão de derivação, mas de confronto com as idéias
dele. A crítica que Marx faz da noção de alienação de Hegel é uma reformulação
de sua crítica geral do idealismo filosófico. Antes, porém, de voltarmos nossa
atenção para esse aspecto, vamos examinar rapidamente a visão de Hegel sobre
alienação.
A
Visão Marxista da Alienação
A alienação, em suas formas diferentes, é um conceito central em toda a
obra de Marx e mostra a continuidade de seu pensamento. Ele discute muitos tipos
de alienação : a religiosa, que se manifestou quando Deus usurpou a posição do
Homem, se assim podemos dizer; a filosófica, quando a Filosofia era meramente
especulativa, preocupada apenas com abstrações: o pensamento puro, que reduzia
o homem e a história a um processo mental. Havia também a alienação política e
econômica. Todas elas encerravam a idéia comum de que o Homem havia falhado a
alguém ou a alguma coisa que era essencial à sua natureza. Em todas essas
diferentes formas, alguma outra entidade obtinha o que deveria caber ao Homem –
o direito.do controle de suas próprias atividades. Essa alienação reflete-se,
na vida real, também na forma de sua ideologia. por exemplo, a Economia
Política é considerada como tendo uma realidade objetiva ontológica com
"leis" que regulam independentemente a atividade humana. Mais uma
vez, o sujeito humano se transforma no objeto de seus produtos, isto é, a
alienação faz do Homem um predicado de seus produtos. Os objetos, mercadorias,
os produtos do Homem, se tornam o seu senhor, enquanto o Homem, como
trabalhador, se torna um ser sem objeto.
A
conseqüência necessária desse sistema, da relação externa do trabalhador com a
Natureza, com outros, consigo mesmo, do trabalho alienado, é a propriedade
privada. Marx sustentava que a propriedade não era a realização da
personalidade, mas sua negação. A posse de propriedade implica sua não-posse
por outrem. A solução de Marx para esse problema foi a abolição do capital e de
todas as relações de propriedade. Para abolir a alienação, outro pré-requisito
necessário teria de ser a abolição da divisão do trabalho. No momento, a
divisão do trabalho reduz o Homem, pois faz da ocupação que lhe é atribuída a
sua principal característica.
Marx
afirmou que nas sociedades atuais a criação de objetos, em lugar de contribuir
para que o homem se realize, provoca a alienação, mas nas sociedades futuras a
objetificação levará ao desdobramento de todas as potencialidades humanas. Em
lugar de antagonismo, haverá mutualidade: "A abolição positiva da
propriedade privada e da apropriação da vida humana é, portanto, a abolição
positiva de toda alienação, e com isso o afastamento do homem da religião,
família, Estado, etc., e a volta para o seu ser humano, isto é, seu ser social.
A
sociedade que venha a abolir a alienação abolirá não o trabalho, mas as suas
condições alienantes. A abolição da divisão do trabalho implica a abolição das
distinções que impedem o homem de ser realmente humano. O advento do comunismo
significará que os homens podem viver numa sociedade onde já não estarão
alienados de si mesmos. Significará a solução do conflito entre o Homem e a
Natureza, e a realização, por ele, da liberdade e de sua humanidade universal.
Acabou
a inocência, historiadores. Ousai conhecer...
Referências
(além
dos textos obrigatórios citados)
BOTTOMORE, Tom. Dicionário do
Pensamento Marxista. Rio de
Janeiro, Jorge Zahar
editor,
1988.
MÉSZAROS, István. Marx: A teoria da
alienação. Rio de Janeiro, Jorge
Zahar editor,1981.
Música: Do the evolution. Pearl Jam
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